sábado, 30 de maio de 2009

Warren Buffet sobre a nova crise

Matéria interessante que mostra a importância da análise macroeconômica para o investidor.

Boa leitura.

Warren Buffet e a próxima crise
Brasil
Autor(es): Ricardo Balthazar
Valor Econômico - 08/05/2009



No sábado, dia 2, o bilionário Warren Buffett abriu a assembleia anual dos acionistas da empresa que administra seus investimentos projetando uma imagem desconcertante nos telões do ginásio em que a reunião ocorreu. Ele mostrou o recibo de uma transação concluída no dia 18 de dezembro, quando a Berkshire Hathaway vendeu US$ 5 milhões em títulos do Tesouro americano para um investidor que aceitou pagar US$ 5.000.090,97 pelos papéis, que só poderiam ser resgatados quase quatro meses mais tarde.
Como Buffett observou, esse investidor teria economizado US$ 90,97 se tivesse guardado seu dinheiro embaixo do colchão por quatro meses em vez de fazer negócios com a Berkshire naquele dia. Mas transações como essa foram comuns em meio ao alvoroço que tomou conta dos mercados financeiros no fim do ano passado, quando o pânico entre os investidores aumentou tanto a procura pelos títulos do Tesouro americano que eles atraíram interesse mesmo sem oferecer rendimento nenhum. "Talvez nunca mais vejamos isso de novo em nossas vidas", disse Buffett no sábado.
Buffett não sabe quando vai se recuperar dos prejuízos que sofreu nos últimos meses, mas já está preocupado com a próxima crise. Ele acha que as medidas adotadas para estabilizar o sistema financeiro nos Estados Unidos vão alimentar um processo inflacionário que as autoridades terão dificuldade para conter, e acredita que o crescente endividamento do governo americano se revelará insustentável quando a fase mais aguda da crise passar. "A inflação é quase uma certeza", disse Buffett. "É o jeito mais fácil de pagar essas coisas."
A volta da inflação pode parecer improvável agora, com o noticiário cheio de histórias de empresas que não conseguem vender seus produtos e trabalhadores que aceitam reduzir o próprio salário para preservar o emprego. Mas muitos economistas temem que ela volte a mostrar os dentes justamente quando o mundo começar a se levantar do tombo que levou, prejudicando sua capacidade de voltar a crescer de maneira saudável.
O Tesouro e o Federal Reserve, o banco central americano, injetaram trilhões de dólares na economia nos últimos meses para reativar os mercados de crédito, capitalizar bancos em apuros e reanimar a atividade econômica. Um efeito disso foi a explosão do endividamento do país. As projeções mais recentes indicam que a dívida pública americana saltará para 54% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e alcançará 62% do PIB no próximo, seu nível mais elevado desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Calcula-se que o Tesouro precisará captar US$ 2 trilhões no mercado para financiar suas despesas somente neste ano. O governo não tem encontrado dificuldades para achar gente disposta a lhe emprestar dinheiro. Seus títulos continuam sendo vistos pelos investidores como as aplicações mais seguras da praça. Os rendimentos oferecidos pelo Tesouro aos compradores dos papéis subiram desde a virada do ano, mas continuam em níveis historicamente baixos.
Mas ninguém acredita que essa posição confortável vai durar para sempre. A recuperação da economia criará novas oportunidades para os investidores, que aos poucos voltarão a assumir riscos maiores e passarão a cobrar mais caro para continuar financiando o Tesouro. A China, que hoje é o maior credor dos EUA, está preocupada com o risco de que suas reservas em dólar se desvalorizem e tem procurado diversificar seus investimentos.
A volta da inflação aos EUA geraria complicações sérias para a China. O governo chinês acumulou nos últimos anos cerca de US$ 2 trilhões em reservas e estima-se que dois terços desse dinheiro estejam aplicados em títulos do Tesouro americano e outros ativos em dólar. Esses papéis perderão seu valor se a inflação voltar nos EUA. Como Buffett observou no sábado, os riscos aos quais a China está exposta são maiores que os dos contribuintes americanos, já que ninguém até agora pensou em aumentar impostos para fazê-los pagar uma fatia maior da conta dos planos de combate à crise.
Buffett votou em Barack Obama para presidente, reconhece o esforço que as autoridades têm feito para reerguer a economia e disse aos acionistas da Berkshire no sábado que seria absurdo exigir "perfeição" do governo numa hora dessas. Mas ele também está preocupado com as desvantagens que as políticas implementadas pelo Tesouro e pelo Fed têm criado para seus negócios.
Algumas instituições financeiras socorridas pelo governo nos últimos meses conseguem hoje em dia captar recursos no mercado em condições melhores do que Buffett, graças à bênção oficial. O lendário investidor, que nunca deu calote em ninguém e recentemente teve seu crédito rebaixado pelas agências de classificação de risco, está visivelmente incomodado com a situação. "Desgrudar essas instituições das tetas públicas será um desafio político", escreveu Buffett em fevereiro, na carta anual para os acionistas da Berkshire. "Eles não irão embora por livre e espontânea vontade."

Sem reais na carteira
Buffett ganhou um bom dinheiro apostando no real há alguns anos, mas tudo indica que ele liquidou as posições que tinha. Na carta que escreveu para os acionistas da Berkshire em 2007, o investidor manifestou espanto com a contínua valorização do real em relação ao dólar nos anos anteriores e revelou que havia comprado reais. A revista "Fortune" estimou em US$ 100 milhões o ganho que o investimento lhe teria proporcionado. Numa entrevista para jornalistas no domingo, Buffett disse que desfez as aplicações que tinha em moedas estrangeiras. Ele indicou que hoje em dia está mais interessado em explorar oportunidades que estão aparecendo no mercado americano com a crise, mas não descartou a possibilidade de fazer novas aquisições no exterior. Buffett comprou recentemente 10% de uma fábrica de carros elétricos na China e tem 5% das ações da siderúrgica coreana Posco, mas não tem investimentos relevantes no Brasil atualmente.

Ricardo Balthazar é correspondente em Washington
E-mail ricardo.balthazar@valor.com.br

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Matheus Massari
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